domingo, 15 de março de 2009

SERTÃO ENCARNADO


Dário Teixeira Cotrim

A exposição Sertão Encarnado é uma oportunidade única que os leitores montesclarenses têm para apreciar fragmentos das obras de Afonso Arinos (Os Jagunços), Euclides da Cunha (Os Sertões), João Guimarães Rosa (Grande Sertão – Veredas) e Graciliano Ramos (Infância). Portanto, a Secretaria Municipal de Cultura de Montes Claros saiu na vanguarda a foi, incontinenti, buscar em algures a exposição itinerante sobre o sertão encarnado de nossa terra na certeza da valorização da nossa literatura catrumano que é discorrida sobre a região norte-mineira, principalmente o sertão bruto de Manuel Nardi – o Manuelzão – onde os mais belos escritos foram realizados aqui nesta faixa de terra distante do litoral.

A exposição acontece no Montes Claros Shopping Center. São dezenas de banners que trazem as definições do nosso sertão na visão de quatro intelectuais da literatura regional brasileira. Disse Afonso Arinos (1868-1916) que “Ele vira o sertão, perscrutara o segredo das florestas, compreendera as vozes dos animais e dos homens, sondara a alma da Natureza e conhecera a causa de suas iras sagradas, quando ela rugia com os trovões, arrancava furiosa aos estirões da borrasca, lascando os rochedos e fendendo os troncos de raios...”.

Em outras galhardetes dizia Euclides da Cunha (1866-1909) sobre a “Guerra de Canudos”: “Forremo-nos à tarefa de descrever os seus últimos momentos. Nem poderíamos fazê-lo. Esta página, imaginamo-la sempre profundamente emocionante e trágica; mas cerramo-la vacilante e sem brilhos”. Do mesmo modo João Guimarães Rosa (1908-1967) definiu o sertão: “Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar”. Complementado o quarteto, o escritor Graciliano Ramos (1892-1953) desabafa em Infância como quem sonha em sonhos embrulhados pela conveniência de viver. “As inquietações que me enchiam as noites eram quase palpáveis, tinham feições – e cabelos negros me acariciavam o rosto, um sopro me inteiriçava”.

Venhamos e convenhamos. Nada mais justo e oportuno essa mostra sobre as obras dos nossos escritores regionalistas. Ninguém melhor do que os poetas para nos mostrar as belezas incontidas da terra e as inquietações de um povo forte e guerreiro. Viver é perigoso, dizia Rosa. No sertão esse perigo não tem a dimensão da dor e nem o profundo sentimento de quem por aqui vagueia, ao acaso e sem pressa. Pensando assim, foi que a Superintendência de Bibliotecas Públicas de Minas Gerais, sob a coordenação de Maria Augusta da Nóbrega Cesarino, projetou e produziu os benners para ilustrar essa exposição.

Como já afirmamos nos parágrafos anteriores, a literatura regionalista do Sertão Encarnado conta a história e as estórias de um bravo povo sofrido e totalmente dependente da santa terra. A terra que é boa-mãe e não tem a complacência dos céus. Os saudosos cronistas João Valle Maurício, Nelson Viana e Cyro dos Anjos foram os que de melhores cantaram e encantaram o nosso sertão norte-mineiro. Só tem uma coisa pior do que homem-vítima das penúrias do sertão. Aliás, duas: uma mulher-vítima ou uma criança-vítima. Sim, porque o homem, na concepção do escritor Guimarães Rosa é antes de tudo um forte.

A leitura de suas obras nos ensina como viver.

Em vista disso, a Secretaria Municipal de Cultura de Montes Claros fez questão de trazer a exposição Sertão Encarnado para bem perto da gente, oferecendo-nos essa irresistível viagem pelas grotas sertanejas do norte de Minas. Boa viagem!

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